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20 de Abril de 2024

Texto da MP da Liberdade Econômica dispensa trabalhador de bater ponto

Por acordo individual, empregado e empregador poderão marcar apenas faltas, folgas e horas extras.

Publicado por Ricardo Calcini
há 5 anos

MP (medida provisória) da Liberdade Econômica dispensa trabalhadores de todas as categorias de bater cartão. Relatório aprovado em comissão mista do Congresso autoriza o chamado registro de ponto por exceção.

Pelo modelo, um funcionário de qualquer empresa poderá fazer acordo individual com empregador para não bater ponto. Sendo assim, ele poderá chegar ao trabalho, cumprir todo o expediente e ir embora sem fazer nenhuma anotação. O trabalhador ficará liberado de marcar horário de entrada, saída ou almoço. Somente exceções —como diz o nome do sistema de registro— serão obrigatoriamente anotadas. Entre elas estão horas extras, folgas, faltas e férias.

Pela regra atual, prevista na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o empregador é responsável por controlar a jornada em empresa com mais de dez funcionários. Qualquer mudança se dá por meio de acordo coletivo.

A alteração da CLT não consta do texto enviado ao Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro em abril. A MP institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. Segundo o governo, ela desburocratiza o ambiente de negócios.

As mudanças, como não bater ponto e o trabalho aos domingos para todas as categorias, foram inseridas pelo relator da MP, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).

O conjunto de medidas é considerado uma minirreforma trabalhista por especialistas. Conforme mostrou a Folha em 12 de julho, 36 artigos da CLT serão alterados.

“A empresa que quiser vai buscar o ponto por exceção, poderá acabar com o ponto”, diz Otavio Pinto e Silva, sócio do escritório Siqueira Castro e professor de direito do trabalho da USP.

Segundo ele, a proposta flexibiliza o controle da jornada. “O empregador vai usar a lei para dizer que uma hora extra foi feita e marcada pelo ponto de exceção. Ficará o ônus [da prova] com o trabalhador”, afirma.

Na Justiça do Trabalho, hora extra está entre os assuntos mais recorrentes nas ações. Até maio, segundo dados do TST (Tribunal Superior do Trabalho), foram feitos mais de 550 mil pedidos de indenização em primeira instância.

“A tendência é cair drasticamente os pedidos de hora extra”, diz Ricardo Calcini, professor de direito do trabalho da FMU. “O trabalhador vai ter de produzir a prova mais robusta, e isso, na prática, vai ficar cada vez mais difícil.”

À Folha Goergen afirma que põe na lei uma prática existente nas empresas e chancelada pela Justiça trabalhista.

“Estou atualizando a legislação. Eu coloquei na lei aquilo que já é decisão”, diz. “É uma burocracia a menos. Se a Justiça já decide dessa forma [pelo registro de ponto por exceção], não tem de discutir na Justiça. Já reconheço assim.”

O sistema, porém, é polêmico na Justiça do Trabalho. A aceitação do registro de ponto por exceção ainda é discutida em primeira instância e também em tribunais regionais.

Como a Folha mostrou em abril, uma decisão do TST, de relatoria do ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, avalizou o modelo pela primeira vez na SDC (Seção de Dissídios Coletivos).

Tratava-se de um acordo coletivo específico —entre um sindicato de metalúrgicos e uma empresa no Espírito Santo. Com a MP, o registro de ponto por exceção valerá por acordo individual por escrito, convenção ou acordo coletivo.

“A importância de ser individual é que cria possibilidade daquela linha de raciocínio da própria reforma trabalhista [do governo Michel Temer] de que [o que] vai valer mesmo é o contrato”, diz Goergen.

Para ele, o contrato será fortalecido, sem mudança estrutural na lei. “Ao fazer isso, estamos criando a valorização de acordo que interessa a trabalhador e empregador.”

Segundo Luiz Antonio dos Santos Junior, sócio do Veirano Advogados, a jurisprudência é controvertida até mesmo em acordos e convenções.

A proposta de Goergen, para o advogado, é um avanço. “Amplia o escopo da jurisprudência porque passa a ser individual”, afirma.

“Particularmente entendo que é válida, porque não está tirando nenhum direito constitucional. Ela está meramente regulamentando a forma de controle de ponto.”

Além de permitir o registro de ponto por exceção, a MP mantém o controle manual, mecânico ou eletrônico do horário de trabalho. Empresas com mais de 20 funcionários terão de fazer a marcação.

O texto precisa ser aprovado até o dia 10 de setembro.

MOTOBOYS

Ponto polêmico da MP da Liberdade Econômica, o fim do adicional de periculosidade para motoboys deverá cair.

“Isso é compromisso meu. Foi errado. A ideia era melhorar para o motoboy e ficou horrível”, diz o relator Jerônimo Goergen (PP-RS).

O adicional de 30% existe desde 2014. Segundo ele, a intenção era manter o benefício para a categoria e impedir que quem vai para o trabalho de moto, como meio de locomoção, pudesse reivindicá-lo.

“Isso não vai ficar no texto. Isso é um erro de redação. Vamos corrigir em plenário”, afirma Goergen. “Eu mesmo vou apresentar um destaque [contra o fim do adicional].”

FONTE: Folha de S.Paulo, 29/7/19.

Por William Castanho

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51 Comentários

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Tenho como absurdo jurídico, do ponto de vista do Direito do Trabalho. Em minha liberdade de expressão seria suprimir mais um direito do trabalhador. Ademais, em um pais Capitalista, onde reina o Capitalismo, jamais empregador e empregado podem negociar algo, sem os olhos plenos dos operadores do Direito, pensar o contrario seria ir em contra mão aos direitos fundamentais e sobre tudo ao estado democratico de Direito. Adilson Silva Melo. Advogado.Professor Universitário da Facig/Pernambuco. continuar lendo

Otima explanação do ponto de vista Jurídico, com enfase aos dir3eitos e garantias fundamentais.. Parabens. continuar lendo

E já sabemos o que vai acontecer né, vão "pipocar" ações judiciais relatando situações de abuso, que certamente ocorrerão, e o tal acordo vai ser desconfigurado pela Justiça do Trabalho.
Em outra hipótese, aproveitando-se da falta de provas, pessoas mal intencionadas poderão alegar o mesmo abuso, e muitas ganharão. Quero ver quando o governo vai entender que não é porque determina x que as coisas serão x. continuar lendo

Tenho uma solução... Cada um que se sentir "prejudicado", passe a empreender, simples assim. Não é fácil a vida do empresário? Basta ser um! O resto é discurso sem nexo e vazio. O empregado tem o maior MAIOR, dizer se aceita ou não o contrato. O patrão precisa da mão de obra. Quem sabe assim a JT fique um pouco mais "equilibrada". Ufah. Já vem tarde! E que não gostar? Que vá abrir uma empresa... continuar lendo

"Ademais, em um pais Capitalista, onde reina o Capitalismo, jamais empregador e empregado podem negociar algo, sem os olhos plenos dos operadores do Direito"...

Ou seja, paternalizem bastante até o "trabalhadô" perder toda e qualquer autonomia que se possa vir a ter. Tudo tem que estar o pai Estado fiscalizando. É, depois falam que a mentalidade é "capitalista". Kkkk. continuar lendo

Por isso que nos EUA existe também uma CLT. Ótima explanação... continuar lendo

Sendo eu contador, vejo uma melhora na forma em que a jornada de trabalho está sendo tratada. Pois há tantos empregados que deixam para bater o ponto sempre antes do horário do início do trabalho ou depois que sai do vestiário da fábrica na saída, só para ganhar uns míseros 10 ou 15 minutos de HE. todos os dias, depois recorrem à Justiça do Trabalho alegando que trabalhou e não recebeu HE. Parabéns aos legisladores que pensam não somente no empregado mas também no empregador. Contrato individual é a melhor forma do trabalhador dar valor à sua mão de obra. Não ficar dependendo de convenções coletivas que sevem mais é pra garantir os cabides de empregos nos sindicatos. continuar lendo

Quem sabe o colega Eliel larga a advocacia e abre uma empresa também ao invés de chancelar aberrações jurídicos num fórum de discussão. continuar lendo

Desculpa, mas que absurdo ele chancelou? Defender a autonomia do empregado em vista do empregador, sua capacidade de determinar, principalmente quando em condição igual ao seu empregador, situações que acarretem benefícios próprios e para aquele que está lhe empregando é absurdo? Sim, ne? O que é super razoável é a lei determinar e engessar cada aspecto do Trabalho no Brasil, determinando absolutamente a incapacidade do indivíduo de se autodeterminar em qualquer situação possível. Quem adora essa ideia, aliás, são os advogados que adoram uma causinha baseada em "direitos" trabalhistas. Mentalidade atrasada. continuar lendo

Estão cheios de robôs na rede para defender qualquer absurdo.. continuar lendo

Aline do Valle, não finja que é igual a themis. No modelo proposto, o trabalhador não vai mais receber horas extras trabalhadas. O modelo proposto é a institucionalização da desonestidade, posto que quem é honesto não defende a falta de fiscalização pelo cartão de ponto. Quem tem um mínimo de conhecimento da justiça do trabalho, um mínimo de conhecimento de processo do trabalho (na prática) sabe bem o que estou falando. continuar lendo

"Quem tem um mínimo de conhecimento da justiça do trabalho, um mínimo de conhecimento de processo do trabalho (na prática) sabe bem o que estou falando."

O "mínimo de conhecimento" de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho na prática me demonstrou que no Brasil o pobre coitado do trabalhador está sempre sendo tratado como um incapaz, mesmo quando ele está manifestamente explorando o seu empregador, que o paternalismo aqui impede que exista confiança e tentativa de melhora das condições de trabalho, que a (In) Justiça do Trabalho está sempre do lado dele, mesmo contra legem.

Você que não venha aqui dar aquela fingidinha básica que é a favor dos oprimidos coitados. Pequena e média empresa no Brasil quebra quando vai demitir. Ou você acha que só existe grande empresário capEtalista cruel aqui?

Desonestidade é o que acontece todos os dias, o pobrezinho arrumando testemunha fajuta para ferrar com o empregador.

Nem vem que não tem com esse papinho seu. Há muito deixou de colar essa palhaçada. continuar lendo

A mesma choradeira de sempre nos comentários...estão acabando com as ações oportunistas que o emprego queria sair levando a empresa pro buraco. Se houverem abusos a justiça irá solucionar, basta provar, as partes e os advogados tem que cumprir seu papel. continuar lendo

Viva o Bolsonarismo, viva o neoliberal, viva o capitalismo, viva, o trabalhador que vai a praça pública apoiar o atual governo e .... viva a CTPS verde e amarela... continuar lendo

Tenho que concordar com vc. Fato. continuar lendo

Tirar direitos do trabalhador no fundo significa tirar renda, salário. Quando a onda estourar e a classe média liberal descobrir que não há mercado consumidor para suas hamburguerias gourmet e franquias de perfumes será tarde. Empresários nada são sem consumidores. A não ser para a grande industria de exportação. Nada se fala de infraestrutura, logística e combate a sonegação fiscal ... só de como ganhar 1 milhão na bolsa em 1 ano. continuar lendo

"...Empresários nada são sem consumidores...."
E trabalhadores nada são sem empresários... Já pensou nisso?
Mas é claro que catador de papelão não precisa de empresário, não é?

O Brasil tem hoje 13 milhões de desempregados implorando para empresários os empregarem.... continuar lendo

É exatamente nisso que querem transformar o Brasil. Em apenas uma indústria de exportação, explorando o máximo possível o trabalhador, mão de obra barata com preço competitivo no exterior. Transformar o Brasil em uma China, superpotência pelo que arrecada nas exportações e não repassa à maioria da classe trabalhadora. Poucos privilegiados e muitos explorados. País “rico”, trabalhadores pobres. continuar lendo